quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Governabilidade X Corrupção

Governabilidade X Corrupção

Muita gente questiona a tal da governabilidade e confunde com o ato de governar. Mas são diferentes. Do ato de governar, podemos entender a ação do executivo com relação a projetos, impostos, atos, muitos dos quais dependem da aprovação do legislativo, enquanto a governabilidade entra como uma palavra viciada, criada no governo FHC, inspirada na queda de Collor.
Collor, transformado pela Globo em fenômeno eleitoral, não conseguiu “convencer”  o congresso e acabou sendo cassado. FHC, que o sucedeu, graças ao sucesso do plano econômico de Rubens Ricupero, percebeu logo de cara, que sem “meios de convencimento”, não teria o congresso a seu favor.
Muito mais cuidadoso que Collor, e seu braço direito PC Farias, FHC tinha Sergio Mota, o competente caixeiro viajante, que arrecadava, guardava nas Ilhas Cayman e distribuía “os motivos” para a aprovação de ávidos congressistas.
Se voltarmos aos anos 60 veremos que Jânio Quadros mesmo sendo da direita, não soube convencer a direita, a apoiá-lo. Caiu, como cairia Collor 30 anos após.
A governabilidade não é a compra da direita pela esquerda, gerando votos favoráveis, nem vice-versa. A governabilidade é o convencimento da oposição formada por pequenos partidos, sem qualquer ideologia e com um único interesse. Ou o aliciamento de bancadas marcadas, sob condições de troca, para se alcançar um objetivo de governo.
Após FHC, iniciou-se a era Lula. Era que não duraria mais que a era Collor, se não fosse inaugurada uma “governabilidade” mais ampla, generosa e irrestrita. E ai, o PT começa a pagar pela inexperiência, ao administrar o mensalão nos moldes criados por FHC. Era um modelo tucano, administrado por um grupo petista.
Foi escalado para dar tratos a bola, o bem articulado, mas pouco experiente José Dirceu. Dirceu levantaria “sobras de campanha”, empréstimos, e parte da gordura de lucros gerados por empresas fornecedoras, para convencimento das bancadas podres.
O negócio cresceu rápido e com ele as “bancadas podres”. Novos partidos, novos credores de “favores” específicos e novos acordos, para a aprovação de novos projetos e um circulo vicioso cada vez maior.
Deu certo, a não ser pela inocência de Dirceu,  ele acreditou que bastava o que fora combinado e tudo estaria certo. Não para Roberto Jéferson, que queria mais do que o sistema poderia produzir.
Veio a reeleição de Lula, depois Dilma, outros novos partidos e sócios cada vez mais ávidos por participação no lucro Brasil.
O PT já não podia mais vir a público e denunciar que era refém de um esquema, onde só projetos “santificados” seriam aprovados.
Seria necessária uma reforma política, uma reforma partidária, clausulas de barreira, que impediriam novos partidos podres e novos sócios, mas a justiça decretou o fim das clausulas de barreiras.  O PT teve medo e não gritou. Vejam quem são as lideranças dos novos partidos criados nos últimos 10 anos. A grande maioria, de direita, ou religiosos, o que dá no mesmo, mas sempre aproveitadores,  gente que se fez à custa do erário público e nunca fez nada pelo povo.
Sem José Dirceu, o grande mentor intelectual do partido e ao mesmo tempo, o homem que tinha tudo nas mãos, o partido ficou sem “diretor de governabilidade”. A tarefa acabou sendo de vários, de acordo com as necessidades. Hora o líder Vaccarezza, hora outras lideranças, hora o próprio presidente, mas o negócio não poderia parar.
Aliado aos motivos e às consequências existiria o olho gordo dos pequenos companheiros, o inchaço do partido e sua consequente peemedibilização.  Qualquer ex-arena, já poderia ser um neo-petista.  O inchaço diminuía a qualidade e aumentava a necessidade da compra de espelhinhos, para os novos índios.
Depois disso temos o espetáculo do julgamento de José Dirceu, não do mensalão. O objetivo principal era tirar de cena José Dirceu. Sem Dirceu, acreditava-se não existiria que articulasse a compra de “bancadas podres” e o governo cairia por si só. Tanto que  os distintos julgadores jamais se preocuparam em levantar o nome dos comprados, baseando o  tiroteio apenas nos compradores. Mas outros ocuparam os espaços, as vezes nem tão cuidadosos, as vezes inconsequentes e as vezes até mesmo inocentes.
Cada vez mais o governo ficava refém dos mais experientes no “negócio político”, como Sarney, Renan, Collor, Maluf e todos os antigos inimigos, que agora queriam, não só um pedaço do bolo, como fazer parte da equipe que contratava a doceira, que vendia os ingredientes e que distribuía os melhores pedaços.
E de onde saia a “agua benta” para curar a “bancada podre”? É claro, de caixa dois, de contratos e compras.
Prejuízo aos cofres públicos? Não mais do que historicamente existia, porém muito mais arriscado, pois da maneira que estava sendo feita, tirava do poder, outros que queria concorrer.
O que ocorria, desde sempre é que os aliados, já era como Washington Luiz, recebiam as benesses, por produtos não comprados, estradas não feitas, usinas nucleares não concluídas, Transamazônicas inexistentes, planos econômicos furados e agora, era por usinas efetivamente compradas, projetos sociais, que efetivamente chegavam ao povo, estádios efetivamente concluídos, enfim, obras e projetos sociais existentes.
Só ai mora a diferença. Antes pagava-se mais pelo que nunca existiu, enquanto agora pagava-se mais pelo que está sendo, ou já foi concluído.
Para que tudo fosse feito, muitos caíram pelo caminho, Dirceu, Genuíno, hoje se falam outros nomes, como o de Candido Vaccarezza e até de Eduardo Campos. É claro que Eduardo Campos, que participou  do governo, deve realmente ter sido usado na compra de algumas bancadas podres. Ao sair do governo federal  foi governador de Pernambuco, onde, entre outras coisas, deu um salto na educação. Educação não dá lucro para bancada podre, que aprova investimento, logo esses investimentos em “água benta”, devem vir de algum lugar. E vem.
O mesmo ocorre com Vaccarezza, líder de dois governos (Lula e Dilma) e é claro, para a liderança sobram muitos ônus, e poucos bônus. Se todo os acordos passavam por ele as culpas lhe caiam de graça, mas os méritos iam para a Alvorada.
Pegam se mais quatro, ou cinco nomes, para serem os cristos da vez. Mas nada vai mudar. Nada, pelo menos até não termos uma reforma eleitoral, com clausula de barreira, com voto por legenda, com voto do líder, com fim das coligações. Uma reforma judiciária. Uma polícia federal de investigação política. Uma imprensa transparente. E um banho cultural, de 10 anos intensivos para a criação de uma primeira geração culturalmente privilegiada. Para um estado laico, independente e líder nas ações com a vizinhança.
Se é para mudar o Brasil, mudar os políticos, que comecemos pela estrutura e com cultura. Hoje a tal “governabilidade” significa aprovar projetos sem ir para a briga, conquistar “bancadas podres” sem contar com  apoio popular e o medo da derrota. Isso é caro. Para pagar surgem os abutres do erário,  grandes empresas e os intermediários do poder, deputados e dirigentes, que recebem e distribuem às bancadas poderes. Assim caminha o Brasil.
Mas em tudo isso, o eleitor ainda é responsável, é ele quem acredita na mídia vendida  e nas boas intenções de denunciantes da Veja, ou congressistas “arrependidos”, é o eleitor que vota em prefeitos corruptos, porque fizeram um bom programa de TV, em deputados safados, pois disseram que eram do bairro e em senadores  sujos. É o povo eleitor, quem não vê as entrelinhas das matérias, das ações dos verdadeiros canalhas e daqueles que apenas  foram usados, para o governo não cair.

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