Governabilidade X
Corrupção
Muita gente questiona
a tal da governabilidade e confunde com o ato de governar. Mas são diferentes.
Do ato de governar, podemos entender a ação do executivo com relação a
projetos, impostos, atos, muitos dos quais dependem da aprovação do
legislativo, enquanto a governabilidade entra como uma palavra viciada, criada
no governo FHC, inspirada na queda de Collor.
Collor, transformado
pela Globo em fenômeno eleitoral, não conseguiu “convencer” o congresso e acabou sendo cassado. FHC, que
o sucedeu, graças ao sucesso do plano econômico de Rubens Ricupero, percebeu
logo de cara, que sem “meios de convencimento”, não teria o congresso a seu
favor.
Muito mais cuidadoso
que Collor, e seu braço direito PC Farias, FHC tinha Sergio Mota, o competente
caixeiro viajante, que arrecadava, guardava nas Ilhas Cayman e distribuía “os
motivos” para a aprovação de ávidos congressistas.
Se voltarmos aos anos
60 veremos que Jânio Quadros mesmo sendo da direita, não soube convencer a
direita, a apoiá-lo. Caiu, como cairia Collor 30 anos após.
A governabilidade não
é a compra da direita pela esquerda, gerando votos favoráveis, nem vice-versa.
A governabilidade é o convencimento da oposição formada por pequenos partidos,
sem qualquer ideologia e com um único interesse. Ou o aliciamento de bancadas
marcadas, sob condições de troca, para se alcançar um objetivo de governo.
Após FHC, iniciou-se
a era Lula. Era que não duraria mais que a era Collor, se não fosse inaugurada
uma “governabilidade” mais ampla, generosa e irrestrita. E ai, o PT começa a
pagar pela inexperiência, ao administrar o mensalão nos moldes criados por FHC.
Era um modelo tucano, administrado por um grupo petista.
Foi escalado para dar
tratos a bola, o bem articulado, mas pouco experiente José Dirceu. Dirceu
levantaria “sobras de campanha”, empréstimos, e parte da gordura de lucros
gerados por empresas fornecedoras, para convencimento das bancadas podres.
O negócio cresceu
rápido e com ele as “bancadas podres”. Novos partidos, novos credores de
“favores” específicos e novos acordos, para a aprovação de novos projetos e um
circulo vicioso cada vez maior.
Deu certo, a não ser
pela inocência de Dirceu, ele acreditou
que bastava o que fora combinado e tudo estaria certo. Não para Roberto Jéferson,
que queria mais do que o sistema poderia produzir.
Veio a reeleição de
Lula, depois Dilma, outros novos partidos e sócios cada vez mais ávidos por
participação no lucro Brasil.
O PT já não podia
mais vir a público e denunciar que era refém de um esquema, onde só projetos
“santificados” seriam aprovados.
Seria necessária uma
reforma política, uma reforma partidária, clausulas de barreira, que impediriam
novos partidos podres e novos sócios, mas a justiça decretou o fim das
clausulas de barreiras. O PT teve medo e
não gritou. Vejam quem são as lideranças dos novos partidos criados nos últimos
10 anos. A grande maioria, de direita, ou religiosos, o que dá no mesmo, mas
sempre aproveitadores, gente que se fez
à custa do erário público e nunca fez nada pelo povo.
Sem José Dirceu, o
grande mentor intelectual do partido e ao mesmo tempo, o homem que tinha tudo
nas mãos, o partido ficou sem “diretor de governabilidade”. A tarefa acabou
sendo de vários, de acordo com as necessidades. Hora o líder Vaccarezza, hora
outras lideranças, hora o próprio presidente, mas o negócio não poderia parar.
Aliado aos motivos e
às consequências existiria o olho gordo dos pequenos companheiros, o inchaço do
partido e sua consequente peemedibilização.
Qualquer ex-arena, já poderia ser um neo-petista. O inchaço diminuía a qualidade e aumentava a
necessidade da compra de espelhinhos, para os novos índios.
Depois disso temos o
espetáculo do julgamento de José Dirceu, não do mensalão. O objetivo principal
era tirar de cena José Dirceu. Sem Dirceu, acreditava-se não existiria que
articulasse a compra de “bancadas podres” e o governo cairia por si só. Tanto
que os distintos julgadores jamais se
preocuparam em levantar o nome dos comprados, baseando o tiroteio apenas nos compradores. Mas outros
ocuparam os espaços, as vezes nem tão cuidadosos, as vezes inconsequentes e as
vezes até mesmo inocentes.
Cada vez mais o
governo ficava refém dos mais experientes no “negócio político”, como
Sarney, Renan, Collor, Maluf e todos os antigos inimigos, que agora queriam,
não só um pedaço do bolo, como fazer parte da equipe que contratava a doceira,
que vendia os ingredientes e que distribuía os melhores pedaços.
E de onde saia a “agua benta” para curar a “bancada podre”?
É claro, de caixa dois, de contratos e compras.
Prejuízo aos cofres públicos? Não mais do que historicamente
existia, porém muito mais arriscado, pois da maneira que estava sendo feita,
tirava do poder, outros que queria concorrer.
O que ocorria, desde sempre é que os aliados, já era como
Washington Luiz, recebiam as benesses, por produtos não comprados, estradas não
feitas, usinas nucleares não concluídas, Transamazônicas inexistentes, planos
econômicos furados e agora, era por usinas efetivamente compradas, projetos
sociais, que efetivamente chegavam ao povo, estádios efetivamente concluídos,
enfim, obras e projetos sociais existentes.
Só ai mora a diferença. Antes pagava-se mais pelo que nunca
existiu, enquanto agora pagava-se mais pelo que está sendo, ou já foi
concluído.
Para que tudo fosse feito, muitos caíram pelo caminho,
Dirceu, Genuíno, hoje se falam outros nomes, como o de Candido Vaccarezza e até
de Eduardo Campos. É claro que Eduardo Campos, que participou do governo, deve realmente ter sido usado na
compra de algumas bancadas podres. Ao sair do governo federal foi governador de Pernambuco, onde, entre
outras coisas, deu um salto na educação. Educação não dá lucro para bancada
podre, que aprova investimento, logo esses investimentos em “água benta”, devem
vir de algum lugar. E vem.
O mesmo ocorre com Vaccarezza, líder de dois governos (Lula
e Dilma) e é claro, para a liderança sobram muitos ônus, e poucos bônus. Se
todo os acordos passavam por ele as culpas lhe caiam de graça, mas os méritos
iam para a Alvorada.
Pegam se mais quatro, ou cinco nomes, para serem os cristos
da vez. Mas nada vai mudar. Nada, pelo menos até não termos uma reforma
eleitoral, com clausula de barreira, com voto por legenda, com voto do líder,
com fim das coligações. Uma reforma judiciária. Uma polícia federal de
investigação política. Uma imprensa transparente. E um banho cultural, de 10
anos intensivos para a criação de uma primeira geração culturalmente
privilegiada. Para um estado laico, independente e líder nas ações com a
vizinhança.
Se é para mudar o Brasil, mudar os políticos, que comecemos
pela estrutura e com cultura. Hoje a tal “governabilidade” significa aprovar
projetos sem ir para a briga, conquistar “bancadas podres” sem contar com apoio popular e o medo da derrota. Isso é
caro. Para pagar surgem os abutres do erário,
grandes empresas e os intermediários do poder, deputados e dirigentes,
que recebem e distribuem às bancadas poderes. Assim caminha o Brasil.
Mas em tudo isso, o eleitor ainda é responsável, é ele quem
acredita na mídia vendida e nas boas
intenções de denunciantes da Veja, ou congressistas “arrependidos”, é o eleitor
que vota em prefeitos corruptos, porque fizeram um bom programa de TV, em
deputados safados, pois disseram que eram do bairro e em senadores sujos. É o povo eleitor, quem não vê as
entrelinhas das matérias, das ações dos verdadeiros canalhas e daqueles que
apenas foram usados, para o governo não
cair.
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