“À medida que o planeta se aquece (...) os animais
deslocam-se para os polos fugindo do calor. Animais estão entrando em contato
com animais com os quais eles normalmente não interagiriam, e isso cria uma
oportunidade para patógenos encontrar outros hospedeiros. Muitas das causas
primárias das mudanças climáticas também aumentam o risco de pandemias. O
desmatamento, causado em geral pela agropecuária é a causa maior da perda de
habitat no mundo todo. E essa perda força os animais a migrarem e potencialmente
a entrar em contato com outros animais ou pessoas e compartilhar seus germes.
Grandes fazendas de gado também servem como uma fonte para a passagem de
infecções de animais para pessoas”.
Matemática.
100 mil mortos no EUA
25 mil mortos no Brasil
Mortes confirmadas no mundo – 350 mil pessoas
Esses dados são matemáticos. Soma simples. Não há discussão a respeito dele. Existe sim
um aumento considerável de mortes, não atribuída ao Covid 19, por falta de testes
e nesse caso, o número de mortos pode ser 700 mil, ou mais.
Como entender esse número de mortos e transportá-los para a
nossa realidade regional?
Bragança Paulista é sede de uma região com 16 municípios,
sendo que Bragança, Atibaia e Amparo devem ter 350 mil habitantes. As outras 13
cidades juntos somariam mais 350 mil habitantes.
Numa bela manhã de outono, você a corda e percebe que todos
em sua casa estão mortos. Você não se conforma e vai para a rua, onde todos
estão mortos. O carro da polícia militar tem quatro mortos. O dono do boteco da
esquina está morto no balcão após servir o último trago para o bebum amigo,
morto na mesa. Na escola as crianças mortas no jardim, no hospital todos estão
mortos e cachorros vagam entre os corredores. Você enlouquece e sai para o
campo, onde apenas urubus passeiam entre os girassóis.
É um cenário terrível?
Você considera essa uma história de péssimo gosto?
Mas são 700 mil mortos, eu apenas mudei sua localização.
Pense bem, enquanto os mortos são da outra casa, da outra
cidade, do outro país eles não te interessavam, mas quando os colocamos dentro
da sua realidade, tudo faz sentido, ou melhor, nada faz sentido e é horrível.
Vamos pensar linearmente:
Uma pessoa de mãos dadas com a outra, de braços abertos,
formanda uma grande ciranda. O rico, de mãos dadas com o menino pobre, que
segura as mãos de uma negra de mãos dadas com um oriental, segurando um
mendigo, que tem a seu lado um padre apertando as mãos do ateu, com um gay, que
segura o pastor, que segura o pai de santo, de mãos dadas a uma criança loira,
de olhos azuis, com cara de pavor segurando um político, ao lado do operário,
com nojo do empresário que, se segura no banqueiro apertando a mão de uma
enfermeira. E assim vai. São 700 mil nessa ciranda. Serão 666 pessoas a cada
quilometro. 6666 pessoas a cada 10 quilômetros. 66666 a cada 100 quilômetros.
666.666 pessoas mortas. Ainda faltam 34 mil pessoas nessa corrente, que começa
em Bragança, passa por Pouso Alegre, Contagem, Belo Horizonte, João Monlevale,
Governador Valadares, Teófilo Otoni, Nanuque, Teixeira de Freitas, até Porto
Seguro.
Uma corrente de mortos e se você passar ao lado deles, vai
reconhecer amigos, filhos, mães, pais, maridos, avós, inimigos, de alguém.
O que eu disse até aqui é matemática desenhada. Simples e
puta matemática em 3D.
Ciência,
quarentena e flexibilização
A doença do coronavírus (COVID-19) é uma doença infecciosa
causada por um coronavírus recém-descoberto.
A maioria das pessoas que adoece em decorrência da COVID-19
apresentará sintomas leves a moderados e se recuperará sem tratamento especial.
COMO ELA SE ESPALHA
O vírus que causa a COVID-19 é transmitido principalmente
por meio de gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou
exala. Essas gotículas são muito pesadas para permanecerem no ar e são
rapidamente depositadas em pisos ou superfícies.
Você pode ser infectado ao inalar o vírus se estiver próximo
de alguém que tenha COVID-19 ou ao tocar em uma superfície contaminada e, em
seguida, passar as mãos nos olhos, no nariz ou na boca.
Porém tudo está em estudos. Poder ser muito mais do que
isso.
Qual é a receita?
-Ficar em casa.
Se eu ficar em casa não vou pegar?
-Vai ser infectado sim, mas pode ser assintomático, pode ser
passageiro, você também pode precisar de UTI e é ai que a coisa pega.
Estamos num país dos planos de saúde, que cobram caro e não
resolvem nada em crise, e é simples, todo investimento deve gerar lucros. A
saúde é como igreja, sua função principal está escondida atrás de sua função
real, o lucro.
Assim, o que tenta-se impedir é que todos precisem dos
hospitais no mesmo tempo. Numa cidade como Bragança, a cada trinta que
precisarem ser internados, 4 vão morrer.
Será que você entende? Precisa desenhar?
Ah, mas você precisa comer...
Claro e ai entra a função do estado. Seu país, seu estado,
sua prefeitura devem prover o seu sustento. Se você votou errado, só resta
deixar pago o seu caixão.
Antes da eleição a gente via muitos profissionais criticando
o Bolsa Família, hoje os mesmos devem entender a necessidade de um estado, seja
de econômica capitalista, ou socialista, cumprindo seu dever.
O papel das prefeituras é cuidar para que seu povo viva. Fiscalizar
em fechar empresas onde o patrão coloca seu funcionário na linha de frente, sem
necessidade.
Onde está escrito que acadêmica, salão de beleza e igreja
são necessários a sobrevivência humana?
Existem sim profissionais que nessa fase são obrigados a
trabalhar para garantir a possibilidade de vida a outros, como lixeiros,
médicos, carteiros, enfermeiras, caixas de supermercado, estoquistas,
frentistas, mas não vão muito além e mais, deveriam ser os prefeitos, os
primeiros a reivindicarem aumentos a essa gente, principalmente se ganham menos
de 6 mil reais, que deveria ser o mínimo, por questão de sobrevivência e
dignidade.
Não se pode flexibilizar. PONTO
Nós não temos estrutura para suportar 200 infectados com
gravidade, em nosso município. A cada 100 mil habitantes, se tivermos 200
infectados graves, teremos 150 mortes por dia.
Parem de hipocrisia e deixem a ignorância de lado.
Mercado e função do estado
Qual é a função do estado em crises em pandemias?
Por enquanto só estou falando do estado capitalista, não
falei em Cuba, onde ninguém está passando fome.
Na crise de 29, o que fez o estado capitalista dos EUA?
Na crise de saúde o que vem fazendo em termos de ajuda a
todos. Digo todos.
Quem está sendo ajudado no Brasil, todos, ou a minoria a
beira do suicídio social?
Quando a ignorância se une a hipocrisia ela ultrapassa todos
os limites. Quando um político burguês vomita suas tendências ao obscurantismo,
sem qualquer pudor, como temos visto em nosso país, a vida do povo fica à
deriva.
Quando a ciência se
vê subjugada aos apelos populescos de uma política medíocre e eleiçoeira e ai
não importa a vida, pois vislumbra-se apenas o voto.
Quando vereadores, ou congêneres, totalmente ignorantes
começam a vociferar em defesa de abertura, sem nenhum conceito técnico, sem
estudos específicos e do alto de sua ignorância, o povo corre riscos.
Uma pandemia não é um assunto político e muito menos para
políticos ignorantes,
que se utilizam de redes sociais
para aparecer e determinar destinos, de acordo com as ordens de seus
financiadores.
Quando um vereador, ou qualquer outro político, do baixo
clero, não sabe a função do estado, não sabe que o estado, em todo o mundo tem
linhas de ajuda, indiscriminadamente para sua população e, mil por cento acima da
esmola bolsonareana, ele deve se calar, mesmo sendo de partidos de aluguel, que
apoiam a loucura de um ministério da saúde com 19 militares em postos chaves.
Natureza
& Ciência
Transcrevo aqui, partes de um artigo
de Luiz Marques publicado pela Unicamp, cujos trechos escolhidos, acredito ser
de grande importância
Desde que tenha oportunidade, o coronavírus está pronto para
mudar de hospedeiro e nós criamos essa oportunidade através de nosso uso não
natural de animais – a pecuária (livestock). Essa expõe os animais de criação à
vida silvestre, mantém esses animais em grandes grupos que podem amplificar o
vírus, e os humanos têm intenso contato com eles – por exemplo, através do
consumo de carne –, de modo que tais animais certamente representam uma
possível trajetória de emergência para o coronavírus. Camelos são animais de
criação no Oriente Médio e são os hospedeiros do vírus MERS, assim como do
coronavírus 229E – que é uma causa da gripe comum em humanos –, já o gado
bovino foi o hospedeiro original do coronavírus OC43, outra causa de gripe”.
Sabemos que a maioria das pandemias emergentes são zoonoses,
isto é, doenças infecciosas causadas por bactérias, vírus, parasitas ou príons,
que saltaram de hospedeiros não humanos, usualmente vertebrados, para os
humanos. Como afirma Ana Lúcia Tourinho, pesquisadora da Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT), o desmatamento é uma causa central e uma bomba-relógio
em termos de zoonoses: "quando um vírus que não fez parte da nossa
história evolutiva sai do seu hospedeiro natural e entra no nosso corpo, é o
caos” (Pontes 2020). Esse risco, repita-se, é crescente. Basta ter em mente que
“mamíferos domesticados hospedam 50% dos vírus zoonóticos, mas representam
apenas 12 espécies” (Johnson et al. 2020). Esse grupo inclui porcos, vacas e
carneiros. Em resumo, o aquecimento global, o desmatamento, a destruição dos
habitats selvagens, a domesticação e a criação de aves e mamíferos em escala
industrial destroem o equilíbrio evolutivo entre as espécies, facilitando as
condições para saltos desses vírus de uma espécie a outra, inclusive a nossa.
A cobertura vegetal dos trópicos tem sido destruída para
sustentar essa dieta crescentemente carnívora, não apenas na China, mas em
vários países do mundo e particularmente entre nós. No Brasil, a remoção de
mais de 1,8 milhão de km2 da cobertura vegetal da Amazônia e do Cerrado nos
últimos cinquenta anos, para converter suas magníficas paisagens naturais em
zonas fornecedoras de carne e ração animal, em escala nacional e global,
representa o mais fulminante ecocídio jamais perpetrado pela espécie humana.
Nunca, de fato, em nenhuma latitude e em nenhum momento da história humana,
destruiu-se tanta vida animal e vegetal em tão pouco tempo, para a degradação
de tantos e para o benefício econômico de tão poucos. E nunca, mesmo para os
pouquíssimos que enriqueceram com a devastação, esse enriquecimento terá sido
tão efêmero, pois a destruição da cobertura vegetal já começa a gerar erosão
dos solos e secas recorrentes, solapando as bases de qualquer agricultura nessa
região (na realidade, no Brasil, como um todo).
O caos ecológico produzido pelo desmatamento por corte raso
de cerca de 20% da área original da floresta, pela degradação do tecido
florestal de pelo menos outros 20% e pela grande concentração de bovinos na
região cria as condições para tornar o Brasil um “hotspot” das próximas
zoonoses. Em primeiro lugar porque os morcegos são um grande reservatório de
vírus e, entre os morcegos brasileiros, cujo habitat são sobretudo as florestas
(ou o que resta delas), circulam pelo menos 3.204 tipos de coronavírus (Maxman
2017). Em segundo lugar porque, como mostraram Nardus Mollentze e Daniel
Streicker (2020), o grupo taxonômico dos Artiodactyla (de casco fendido), ao
qual pertencem os bois, hospedam, juntamente com os primatas, mais vírus,
potencialmente zoonóticos, do que seria de se esperar entre os grupos de mamíferos,
incluindo os morcegos. Na realidade, a Amazônia já é um “hotspot” de epidemias
não virais, como a leishmaniose e a malária, doenças tropicais negligenciadas,
mas com alto índice de letalidade. Como afirma a OMS, “a leishmaniose está
associada a mudanças ambientais, tais como o desmatamento, o represamento de
rios, a esquemas de irrigação e à urbanização”,vi todos eles fatores que
concorrem para a destruição da Amazônia e para o aumento do risco de pandemias.
A relação entre desmatamento amazônico e a malária foi bem estabelecida em 2015
por uma equipe do IPEA: para cada 1% de floresta derrubada por ano, os casos de
malária aumentam 23% (Pontes 2020).
História
A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi
uma vasta e mortal pandemia do vírus influenza. De janeiro de 1918 a dezembro
de 1920, infectou 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população
mundial na época. Estima-se que o número de mortos esteja entre 17 milhões e 50
milhões, e possivelmente até 100 milhões, tornando-a uma das epidemias mais
mortais da história da humanidade. A gripe espanhola foi a primeira de duas
pandemias causadas pelo influenzavirus H1N1, sendo a segunda ocorrida em 2009
Porque morreram entre 17 e 50 milhões de pessoas?
É logico que em 1918 a falta de conhecimento foi a principal
causa. Depois temos ai o nascimento do capitalismo neoliberal, que não poderia
parar para não quebrar.
Jamais seria permitido fechar escolas, ou fabricas no início
daquela pandemia. O mercado era mais importante e se o patrão não ganha, o
escravo não come. Esse erro estratégico levou a quebradeira geral e logo depois
veio a quebra da Bolsa de Nova Iorque e o estado se torna Keynesiano, usando
toda sua capacidade monetária para ressuscitar empresas. Não teria sido mais
fácil pagar ao trabalhador para ficar em casa, como a Inglaterra está fazendo
hoje e todos estariam salvos? Pelo menos 10 a 30 milhões não morreriam e
nenhuma empresa quebraria.
Não teria sido melhor, se o Trump, desde o início da pandemia,
já tivesse envido a ajuda de 6 mil reais para cada família? Talvez 50, ou 60
mil mortos a menos, até aqui?
Nem vamos falar do Brasil, onde o estado perdeu suas
funções.