Oito autores consagrados, seis já falecidos. Eles se encontram em lugares que nunca estiveram, em conversas que nunca tiveram, contando histórias que nunca ouviram.
Antonio
Sonsin é um escritor que conheço há bastante tempo. Acredito que li todos os
livros que escreveu sobre os mais variados assuntos: das memórias de Bragança
Paulista à biografia de um ex-prefeito. Das conversas com profissionais do sexo
(esse eufemismo horrível para prostitutas) à história da República Socialista do Paraguai. Da biografia da figura
importantíssima do jornalista bragantino Olympio Guilherme, o qual entre outras
coisas foi a primeira paixão de Pagu e,
possivelmente, o precursor do cinema underground com a realização do filme Fome, lançado nos EUA em 1929 – em plena
Grande Recessão– aos mais recentes Aztlan
– A refundação da América e Akanis –
A solução final, já no campo da ficção científica e aventura.
Neste
O culpado é o sexo, cujo título, a
meu ver, deveria ser “A culpa é do
machismo”, o autor pretende contar na voz e com o estilo de alguns
escritores nacionais e estrangeiros casos ocorridos nas comunidades em que ele transita
ou transitava.
Com
esse espírito, observamos o insólito encontro
entre Nelson Rodrigues e Plínio Marcos. Ou vamos parar numa padaria do Bixiga e ouvir a conversa entre Luiz Fernando Veríssimo e Mário
Prata.
Talvez
o leitor se surpreenda com a prosa entre Jorge Amado e Vinicius de Moraes,
ocorrida nos anos oitenta do século passado, durante um voo, na Panair, extinta pela ditadura militar
nos anos sessenta. Mas em literatura tudo é possível, principalmente quando o
autor se chama Antonio Sonsin!
Fechando
o livro, no saguão do aeroporto de Recife, Ariano Suassuna se encontra com
Gabriel Garcia Marquez, o qual após
receber o Prêmio Nobel de Literatura, é obrigado a descer na capital de Pernambuco, em uma escala forçada do avião que o levaria de
volta à Colômbia.
Com
exceção de Luiz Fernando Veríssimo e Mário Prata, os quais para a alegria dos leitores
estão vivos, os demais não poderão contestar essas conversas. E como nem eu, muito menos o Sonsin, somos
religiosos, também não podemos arriscar a dizer que o livro é psicografado, para nos isentar de quaisquer responsabilidades.
Claro
que os leitores irão detectar nos diálogos frases lapidares dos protagonistas e
esse é mais um exercício delicioso dessa
leitura. É bem possível que os, digamos, retratados neste livro também
reconheçam suas próprias histórias, mas sou capaz de apostar que nenhum deles
fará questão de se identificar, por motivos óbvios.
Justifica-se
o machismo acentuado em todos os contos desse livro ao considerarmos que os
autores homenageados por Antonio Sonsin viveram em outra época e sob a visão de
uma sociedade patriarcal, a qual, a bem da verdade, ainda resiste, apesar dos
inúmeros avanços do movimento feminista em combatê-la.
Espero
que os leitores, tal como eu, fiquem indignados com a postura retrógrada dos
personagens masculinos aqui apresentados e percebam que uma sociedade só evolui
quando se é dada a todos, independente de sexo, classe social ou etnia a
possibilidade de decidir a própria vida à revelia de preconceitos e estigmas
sociais.
Reflitam
e desfrutem!
Henriette Effenberger
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