quinta-feira, 30 de abril de 2020

Livro- A Culpa É do Sexo - Lançamento

Oito autores consagrados, seis já falecidos. Eles se encontram em lugares que nunca estiveram, em conversas que nunca tiveram, contando histórias que nunca ouviram.


Antonio Sonsin é um escritor que conheço há bastante tempo. Acredito que li todos os livros que escreveu sobre os mais variados assuntos: das memórias de Bragança Paulista à biografia de um ex-prefeito. Das conversas com profissionais do sexo (esse eufemismo horrível para prostitutas) à história da República Socialista do Paraguai. Da biografia da figura importantíssima do jornalista bragantino Olympio Guilherme, o qual entre outras coisas foi a primeira paixão  de Pagu e, possivelmente, o precursor do cinema underground com a realização do filme Fome, lançado nos EUA em 1929 – em plena Grande Recessão– aos mais recentes Aztlan – A refundação da América e Akanis – A solução final, já no campo da ficção científica e aventura.
Neste O culpado é o sexo, cujo título, a meu ver, deveria ser “A culpa é do machismo”, o autor pretende contar na voz e com o estilo de alguns escritores nacionais e estrangeiros casos ocorridos nas comunidades em que ele transita ou transitava.
Com esse espírito, observamos o insólito encontro entre Nelson Rodrigues e Plínio Marcos. Ou vamos parar  numa padaria do Bixiga e ouvir a  conversa entre Luiz Fernando Veríssimo e Mário Prata.
Talvez o leitor se surpreenda com a prosa entre Jorge Amado e Vinicius de Moraes, ocorrida nos anos oitenta do século passado, durante um voo, na Panair, extinta pela ditadura militar nos anos sessenta. Mas em literatura tudo é possível, principalmente quando o autor se chama Antonio Sonsin!
Fechando o livro, no saguão do aeroporto de Recife, Ariano Suassuna se encontra com Gabriel Garcia Marquez,  o qual após receber o Prêmio Nobel de Literatura, é obrigado  a descer na capital de Pernambuco, em  uma escala forçada do avião que o levaria de volta à Colômbia.
Com exceção de Luiz Fernando Veríssimo e Mário Prata, os quais para a alegria dos leitores estão vivos, os demais não poderão contestar essas conversas.  E como nem eu, muito menos o Sonsin, somos religiosos, também não podemos arriscar a dizer que o livro é psicografado,  para nos isentar de quaisquer responsabilidades.
Claro que os leitores irão detectar nos diálogos frases lapidares dos protagonistas e esse é  mais um exercício delicioso dessa leitura. É bem possível que os, digamos, retratados neste livro também reconheçam suas próprias histórias, mas sou capaz de apostar que nenhum deles fará questão de se identificar, por motivos óbvios.
Justifica-se o machismo acentuado em todos os contos desse livro ao considerarmos que os autores homenageados por Antonio Sonsin viveram em outra época e sob a visão de uma sociedade patriarcal, a qual, a bem da verdade, ainda resiste, apesar dos inúmeros avanços do movimento feminista em combatê-la. 
Espero que os leitores, tal como eu, fiquem indignados com a postura retrógrada dos personagens masculinos aqui apresentados e percebam que uma sociedade só evolui quando se é dada a todos, independente de sexo, classe social ou etnia a possibilidade de decidir a própria vida à revelia de preconceitos e estigmas sociais.
Reflitam e desfrutem!

Henriette Effenberger


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