Eu comecei a participar de política com 14, talvez 15 anos.
Era o Brasil da ditadura.
A esperança era o fim da censura, com 18 anos participei de
várias manifestações, deixei a faculdade de psicologia e fui trabalhar em um
jornal, escrever para a oposição aos ditadores.
Nessa época começaram as manifestações de trabalhadores e
surgiram Lula, Alemão e outras lideranças. Acompanhei tudo, mas como membro do
MDB fui contra a divisão de partidos, eu sabia que não era ideal para o
momento.
Vieram as eleições diretas e trabalhei por ela, participei e
ajudei na organização do primeiro grande comício e mesmo tendo que esperar mais
um pouco a esperança existia.
Passei anos tendo esperança de ver uma país melhor. Viajei
pelo Brasil e vi a fome e a sede nos olhos de crianças, vi acampamentos na
beira de estradas, desempregados sem qualquer chance de sobreviver, sem terra
até para ter onde morrer.
Eu vi a doença nas postas de hospitais e presidentes
preocupados com a bolsa.
Vi a inflação e o over night e os salários sendo consumidos
antes mesmo de pagarem o aluguel. Vi o presidente preocupado com os bancos, com
as empresas, com os donos da terra, com os donos das casas e o remédio
faltando.
Vi cenários com grandes lançamentos de carros novos e
operários nos ônibus lotados. Discursos vazios e gente que enche.
Eleições, reeleições e privataria. Uma festa de arromba.
Vi matérias bem feitas de fome no nordeste, de seca no centro-oeste,
latifúndios e mortes de posseiro.
Só não vi brasileiro parando de morrer de fome, de sede,
estudando e tendo onde morar.
Ai Lula ganhou, aquele mesmo trabalhador que dizia que ia
mudar. Ganhou e não mudou muito, não mudou a relação a bancos, a juros, a
multinacionais, ao relacionamento com um congresso corrupto. Pelo contrario,
fez o jogo e comprou o que todos compraram, ou os que.
Fez discursos semelhantes, só faltava o “s”.
Mas Lula fez algo diferente, ele pegou aquela ideia da dona
Ruth e transformou numa maneira de matar a fome de pobre. Embora não tenha
feito nada para mudar a educação melhorar deu um jeito para por pobre na faculdade. Depois começou a
construir casa para pobre e ainda por cima começou a pagar uma conta com os
negros e ainda arrumou médico para quem morava no fim do mundo.
No resto ele foi igual, igual aos intelectuais, aos esportistas,
os marimbondos de fogo. Apenas foi igual. Na cultura foi zero. Zero.
Mas a diferença, foi
aquilo no que ele foi diferente. Só isso vale por minha espera desde os
14 anos.
Talvez por 502 anos de espera. Mas isso, essa pequena
diferença é muito grande para quem só viu prosperar a indústria da morte, da pobreza e da eterna
escravidão dos povos.
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